Eu nunca entendi… Porque a poesia está por fora

Drummond

Ontem, fui ministrar mais uma das aulas sobre poéticas da leitura e leituras poéticas, dessa vez para uma turma em processo de formação na escola de narradores, um projeto da Cia. Catirina de Arte e Produção junto com as Costureiras de Histórias, Josy Maria e Tâmara Bezerra, duas artistas que amo e admiro, são as coordenadoras desse projeto lindo em Fortaleza, com aulas lá no Teatro José de Alencar.

Sempre encabeço uma discussão a partir do Texto do Carlos Drummond de Andrade, a Educação do Ser Poéticos, podes acessar aqui. Drummond, tece um cometário que parte do seguinte pressuposto, se observarmos bem, as crianças gostam de poesia, com os anos esse gosto parece ser destituído. Essa observação parecer ter pertinência, a pesquisa Retratos da Leitura mostrou em 2007 a poesia como um dos gêneros prediletos das crianças e pré-adolescentes, caso que não acontecia com as pessoas de maiores idades.

Acredito nas palavras do texto de Drummond quando aponta uma educação ausente de poesia, uma das principais causas desse empobrecimento poético pelo qual passamos durante nossa vida, a questão não passa só pelo fator ausência do poema, mas a falta de maestria, desconhecimento, leveza e poeticidade, ao abordar o tema dentro de sala de aula.

“Mas isso ainda diz pouco”, parafraseando o João Cabral de Melo Neto. A Poesia não está por fora só da Escola, ou da Sala de Aula, a poesia anda por fora de muitos locais, a poesia anda por fora dos centro culturais, das bibliotecas, das universidades, dos condomínios, das casas, dos presídios, dos bares, das rodas de amigos, do cinema, da vida secreta das moradoras e moradores do Brasil. Porém não de todo, não vou aqui ser o injusto de dizer que a poesia inexiste, pelo contrário, há uma onda de saraus e uma excelente tentativa de fazer do poema algo mais popularizado, até show com poetas eu vejo anunciar nos instagrans e facebooks da vida.

A questão é, quando apagam as luzes os poetas morrem de fome, a poesia morre de fome, estamos mais para ornamento do que para vitalício, o lugar do poema, esse artefato essencial na humanização de um povo, deve ser debatido, discutido, não importando que um livro de poema  venda pouco, ou que um festival reúna dois ou três criaturas e nunca um público inteiro do show do Wesley Safadão.

Por que essa urgência? Por que essa importância para a poesia? eu contraponho, por que não? se tem lugar para tantas outras coisas que brilham tão menos nas nossas almas. A Falta de lugar para Poesia deve ser tratado como um problema de saúde pública, catástrofe geral, encimentamento coletivo de corpos e espíritos. Vamos colocar a poesia por dentro de tudo, é urgente.

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